Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Milionários sem casa


Como um filme pode arrecadar U$S 262 milhões e parte de seu elenco continuar vivendo em situação de extrema pobreza, sem casa e com pouquíssima comida? Esse é o retrato da situação em que vivem os atores mirins de “Quem quer ser um milionário?”, película que arrematou nada menos do que oito estatuetas do Oscar.

Após o sucesso, nada mudou na vida dos atores Rubina Ali e Azharuddin Ismail M. Shaikh, que interpretaram respectivamente os personagens Latika e Salim crianças. Além de continuarem vivendo em uma favela de Mumbai – o slum, que deu nome ao título original Slumdog Milionaire –, perderam as casas graças a uma demolição oficial, que incluiu as habitações em estado precário.

Em meio a galinhas que podem virar jantar e esgoto a céu aberto, sem higiene, nem saneamento, vivem amontoados em habitações pequenas, sobrevivendo da ajuda de familiares. O produtores do longa explicam que foi dado um alto cachê às crianças, porém, devido às leis indianas, o dinheiro só poderá ser usado quando elas completarem a maioridade.

Pode parecer um pensamento simplista, mas a pergunta é: não há nenhuma brecha na lei, como, por exemplo, fazer uma doação espontânea em dinheiro à família dos atores? Com certeza, nenhuma lei impede os produtores de conseguirem empregos bem remunerados para os pais dos pequenos, o que poderia ser outra solução.

O filme, que eu considerava um dos roteiros mais bem amarrado dos últimos tempos e uma das premiações mais inteligentes da academia, perde fãs. Mostra que a crítica artística é importante para a reflexão e deve ser feita, sempre. Mas só há significado real e profundo quando existe coerência entre discurso e ação.

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