Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

terça-feira, 28 de julho de 2009

Eles bebem, elas comem

Best Seller, o livro Comer, Rezar, Amar, da autora norte-americana Elizabeth Gilbert, causou identificação em mulheres de trinta países. A história de uma balzaquiana tentando se encontrar após uma dolorosa separação vendeu mais de quatro milhões de exemplares.

Agora, surge uma versão divertida voltada para eles: Beber, Jogar, F@#er, do escritor humorístico Andrew Gottlieb. Parodiando o livro de Gilbert, o autor traça paralelos entre os gêneros

Enquanto a publicação dela é autobiográfica, a dele conta a história fictícia de Bob Sullivan. Em ambos, os personagens querem se livrar da dor conhecendo novos lugares.

Ele faz sexo na Tailândia, ela faz amor na Indonésia. Ele joga em Las Vegas, ela reza
na Índia. E, é claro, ele bebe na Irlanda, ela come na Itália.

Nada mais emblemático para pensarmos as disputas de gênero da sociedade do que o fato de que as mulheres comem enquanto os homens bebem. Em outras palavras: enquanto nós engordamos, eles se divertem.

domingo, 26 de julho de 2009

Culinária fusion e revolução do cérebro!


Uma coisa é certa sobre os modismos: eles existem com cada vez mais força e fica difícil não tocar no assunto. Quando o tema é gastronomia – como é o caso deste blog – é obrigatório falar de culinária fusion, a bola da vez. Na verdade, não é de hoje que ela existe, mas foi em 2008 que se difundiu em muitos dos principais restaurantes do País.

Como minha missão é misturar tendências culinárias e políticas, digo com propriedade: esse tipo de gastronomia é resultado de uma nova ordem mundial. Em um mundo onde as distâncias se encurtam cada vez mais e a criatividade é diferencial, misturar sabores e experimentar novas maneiras de fazer torna-se essencial para a sobrevivência de quase todos os chefs (ou pelo menos daqueles que desejam ganhar estrelas Michelin ou, até mesmo, no Guia da Folha).

Dizem que Alex Atala (foto) foi pioneiro em temperar tradições internacionais com toques de brasilidade. Fica difícil saber ao certo se foi ele, mas uma coisa não se pode negar: o chef-sensação foi o primeiro a fazer alarde sobre o assunto. Considerando que algo só existe realmente quando as pessoas conhecem, Atala faz jus ao rótulo de precursor.

No livro “A revolução do lado direito do cérebro”, o autor norte-americano Daniel Pink aplica conceitos que têm tudo a ver com essas tendências: já não vale mais fazer bem, é preciso fazer diferente. O lado esquerdo do cérebro, sistemático e lógico, é útil, mas não suficiente. Para conseguir atingir um diferencial nos dias atuais, é preciso usar o lado esquerdo: criativo, histórico, lúdico, empático e sinfônico.

A gastronomia é apenas uma forma de representação desse novo mundo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O almoço do brasileiro (parte III): O retorno dos excluídos

O maior problema do Brasil é a desigualdade social. Qualquer pessoa com o mínimo de senso de observação – indo do ex-presidente ao atual – consegue perceber que há poucos extremamente ricos, até para padrões europeus e norte-americanos, e muitos extremamente pobres.

Em uma cidade como São Paulo, a mais abastada do País e com duas lojas Tiffany’s, fica ainda mais fácil observar isso. O horário do almoço torna-se momento emblemático. Os restaurantes dos Jardins – onde existem todos os tipos de refeições caras –ficam abarrotados. São pessoas fechando negócios, fazendo networking ou apenas se refestelando para dar uma pausa na rotina estressante.

Enquanto isso, lá dentro, os colaboradores comem o que dá. Além disso, pessoas que trabalham em bairros muito chiques ou em grandes centros comerciais, porém com cargos menores, precisam se virar para não gastar o salário inteiro comendo PFs de 30 reais. O jeito é vender tickets refeição e levar o almoço pronto de casa.

Mesmo com essa solução, acontecem dois problemas básicos: os tickets agora são de cartão e o valor da cesta básica não para de crescer.

Explicando: quando os tickets ainda eram de papel, era fácil repassá-los. Hoje, é preciso encontrar um restaurante que se disponha a descarregar o valor, descontando o preço cobrado pelas operadoras e juros módicos. Afinal, ninguém faz nada de graça. Além disso, a alimentação é um dos itens que mais aumentaram de preço segundo o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor): 0,19% em maio.

Tem que ser malabarista para equilibrar o orçamento!
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Na foto, Fasano, restaurante símbolo da desigualdade.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Deus é amor... e comida

“A religião é o ópio do povo”. Certas frases são inesquecíveis e atemporais e essa – atribuída a Karl Marx – é uma delas. Em uma espécie de pesquisa antropológica, no mês passado, visitei o templo “mundial” da Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA). Foi uma experiência única, que indico a qualquer pessoa que queira entender melhor o mundo.

Gigante, o templo localiza-se na Avenida do Estado em São Paulo. Recebe, aos domingos, fiéis do Brasil inteiro e, até mesmo, do exterior. Durante horas, é possível ouvir missionários pedindo dinheiro ou, como eles preferem chamar, dízimo. O ponto-alto do culto é a chegada de David Miranda, fundador dessa vertente evangélica.

Já idoso, ele aparece em uma cúpula localizada no centro do palco. Dizem que os vidros são blindados, pois o missionário recebeu inúmeras ameaças de assassinato. Se é tudo estratégia de marketing ou verdade, nunca vamos saber.

Durante a cerimônia, fiéis que consideram ter alguma coisa para contar sobem ao palco. Então, começam as sessões de milagres, quando cada uma dessas pessoas conta por que motivo considera que se salvou, as mudanças que teve na vida depois de começar a freqüentar o tempo.

Na primeira fileira do auditório, posicionam-se as pessoas com problemas de saúde (algum tipo de deficiência física ou, até mesmo, em camas posicionadas na frente do palco). O momento mais triste é quando o missionário resolve curá-las: alguns cadeirantes levantam-se e o milagre acontece, deixando a plateia em polvorosa.

Paralelamente ao culto, existe lá fora um verdadeiro mercado da fé, uma atração à parte, mas que, certamente, torna o programa dominical ainda mais atrativo às famílias que frequentam o templo. Todo tipo de comércio: roupas, bíblias, CDs, DVD e... comida, muita comida. Tudo feito sem procedência, com higiene duvidosa, mas todos os quitutes são apreciados pelos fiéis.

Certamente, todos retornam para casa com a certeza de ter vivido um dia especial, recebido alento espiritual e comido com qualidade. Um tema para reflexão.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Mais fiscalização, menos pipoca

Um pipoqueiro com “ponto” em frente à PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) teve o seu carrinho de pipocas apreendido por fiscais municipais. No mesmo dia, um café nos Jardins teve as mesas e cadeiras da calçada apreendidas. Na PUC, provando que ainda existe consciência política entre os universitários, houve uma comoção geral. No café, o dono levava às mãos à cabeça pensando no provável prejuízo.

Essas duas cenas vivenciadas na semana passada são decorrência de ações adotadas pelo prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). O líder executivo da maior cidade do País resolveu fiscalizar a presença de mesas e cadeiras nas calçadas da cidade. Também foram tirados das ruas os ambulantes.

Todos querem uma São Paulo mais limpa e organizada, disso ninguém duvida. Mas toda cidade tem identidade. Muitas vezes, pode ser aliada a certa irregularidade e caos. Imagine se a lei Cidade Limpa passasse pela Times Square? O ponto turístico de maior relevância de Nova Iorque perderia completamente a estética e o charme que atraem pessoas do mundo inteiro.

A mesma coisa acontece, por exemplo, na Vila Madalena, onde o ato de tomar uma cerveja ao ar livre dá brilho ao bairro boêmio. Da mesma forma, a Rua Oscar Freire é um centro de compras conhecido internacionalmente e ganha glamour por seus bancos e mesinhas, onde é possível comer quitutes e beber um bom café observando o movimento de sacolas. Os exemplos são infindáveis.

Na PUC, os estudantes, acostumados a comer sua pipoquinha durante o intervalo das aulas, quase lincharam o carro dos fiscais da prefeitura. Foram necessárias intervenções dos seguranças da instituição para conter a fúria. Resultado: um pipoqueiro sem emprego.

E a pergunta é: o que São Paulo realmente ganha com isso?