Mas neste dia chuvoso, lembrei que tinha de ir ao banco justamente no pior horário: o almoço. Exatamente naquela uma hora em que as pessoas teoricamente teriam de estar se dedicando a encher a barriga, e os corações, com pratos típicos da gastronomia brasileira, todos estavam ali se amontoando na enorme fila para resolver pendências.
Sortuda que sou, precisava apenas falar com a gerente da minha conta. Para minha surpresa, a porta não tinha detector de metais e passei tranquilamente por ela. Sentei na poltrona para esperar ser atendida e, quando olho para a porta, vejo dois rapazes serem barrados pelo segurança.
Ambos eram afrodescendentes, estavam com o uniforme da maior companhia de manutenção de elevadores do País e, por conta do trabalho, os trajes tinham graxa por todos os lados. A cena me causou certa revolta. Fiquei pensando em como o trabalhador brasileiro tem que aguentar uma rotina estressante em uma cidade como São Paulo e ainda ser discriminado na entrada do banco.
Para piorar, eles sentaram ao meu lado e estabeleceram o seguinte diálogo:
- Quanto tempo esse pessoal de banco vai levar para entender que quem quer roubar não passa pela porta? – perguntou o primeiro.
- Se o cara quer entrar pra roubar, vem vestido de executivo, arrumadinho, com terno – constatou o segundo
- Ainda dá tchau para a câmera – apostou o primeiro
Com o estômago roncando, o primeiro perguntou?
- Será que a gerente vai demorar muito? Eu estou com uma fome.
- Saindo daqui, almoçamos um cheesesalada aí na frente.