Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Aloha! Obama gosta de PF

“You can’t really understand Barack until you understand Hawaii”, Michelle Obama

Sai o Texas e entra o Havaí. É incrível como informações simples podem esclarecer, e muito, fatos aparentemente complexos. De um lado, caçadas, calor desértico, cawboys, John Wayne, petrolíferas e muitos veteranos da guerra do Vietnã. De outro, praia, sol, mar, cenários paradisíacos, luaus, camisas floridas, Jack Johnson, surfe e turismo. De um lado, Bush e a guerra. De outro, Obama e a esperança.

Enquanto o Havaí é um dos estados mais multiculturais dos Estados Unidos, formado por europeus, polinésios, invadido por japoneses, o Texas é economicamente bastante desigual: com algumas das famílias mais abastadas do mundo, dividindo o terreno com mexicanos que cruzam a fronteira para lavar o chão da América. Interessantíssimo!

Gastronomicamente falando, as diferenças também são visíveis e bastante representativas. Os texanos possuem uma fascinação histórica por pratos com milho. Também são apaixonados pelo tradicional churrasco ao melhor estilo norte-americano, com molhos adocicados e carnes que parecem exóticas aos nossos olhos. Desta forma, a influência mexicana é uma das melhores notícias gastronômicas. O que faz com que essa seja a culinária preferida de Bush. Em pelo menos um ponto, tenho que admitir: ele é esperto.

Já os conterrâneos de Obama inventaram o tradicional prato de almoço havaiano (Hawaiian Plate Lunch), uma espécie de PF local, formado por duas conchas de arroz branco, salada de macarrão com maionese e uma porção de proteína. Aliás, esse último item fica a gosto do freguês: porco ao estilo chinês, carne coreana, salmão japonês, salsichão português, steak americano ou, até mesmo, um ovo frito. Acreditem ou não, o saudável presidente não deixa de comer essa iguaria quando visita a ilha.

As origens do prato: em idos de 1880, um fluxo migratório levou trabalhadores da China, Coréia, Japão, Portugal e Filipinas para o Havaí. Eles atuavam nas plantações de frutas e açúcar, em condições precárias e, na hora do almoço, comiam arroz com qualquer carne que tivesse sobrado no jantar do dia anterior. Qualquer semelhança com o seu almoço é mera coincidência.
Um homem que come um PF no Havaí, certamente, é uma promessa para um mundo como o nosso!

O New York Times desta segunda-feira (19 de janeiro) percebeu o quanto a calma havaiana de Obama pode ser um trunfo para os tempos difíceis. O próprio presidente diz precisar do descanso local. Caso contrário: “você perde a noção das coisas”, diz ele. Segundo o artigo de Roger Cohen, o presidente eleito restaura o “mito americano da possibilidade”. Ou seja, a ideia de que a America é “home of the brave” ou “a land of opportunities”. A terra em que um afro-descendente do Havaí pode ser presidente é um lugar que, certamente, supera qualquer crise.

Vamos ver se vai acabar em pizza, que, aliás, é outro dos pratos prediletos no novo presidente.

* Um pouquinho de coentro: Ontem, assistindo Manhattan Connection, vi o Diogo Mainardi dizer que a melhor coisa do Obama é que ele não é o Bush, concordo. Mas acho que há mais coisas boas.

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