Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cassação e fome

Pela primeira vez na história, um ditador em exercício foi punido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Seria um fato pouquíssimo questionável por qualquer defensor da democracia não fosse um pequeno detalhe: ele é líder da República do Sudão, um dos países mais pobres e conflituosos da África. Será que se fosse líder de uma nação com alguma relevância econômica internacional – como tantos outros ditadores espalhados por aí – teria recebido o mesmo tratamento?

De qualquer forma, é claro que a punição a um ditador como Omar Hassan al-Bashir, que chegou ao poder por meio de golpe de estado, merece muitas comemorações – fogos do artifício até. O presidente foi condenado por crimes de guerra, genocídio e crime contra a humanidade, graças a conflito que se estende desde 2003 na região sudanesa de Darfur.

Enquanto o TPI estuda ainda como impor a sanção ao ditador - o que é complicado em muitos pontos, podendo ferir a soberania do Sudão - a população do maior país africano continua definhando. Desde que os primeiros conflitos sudaneses começaram – há aproximadamente quatro décadas – calcula-se que 1,5 milhões de pessoas já tenham sido vitimadas, segundo estatísticas da ONU.

Deste montante, há uma parcela que morre em decorrência direta da luta armada, mas, grande parte padece de um mal que mata lenta e dolorosamente: a fome. Falta todo tipo de alimento no local. O conflito não permite que haja produção de alimento, nem que eles sejam entregues, o que torna comida fornecida pelos organismos internacionais insuficiente.

Resultado: todas as crianças têm pouco peso e a maioria delas atinge estágios irreversíveis de desnutrição. Cada dia representa uma guerra diária para fazer alguma refeição.

Apesar de todos esses problemas, é de se estranhar que o Sudão apareça tão pouco na mídia, brasileira ou mundial. Mesmo com a cassação do presidente, fato de extrema relevância para a história do TPI, houve repercussão irrisória nos grandes meios. A mídia perde, o mundo perde e, principalmente, o Sudão perde.
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PS: Com essa luz do fim do túnel, é de se esperar que outros ditadores também sejam punidos e afastados do cargo. Tomara.

2 comentários:

Cinthya disse...

Já é um começo... Agora nos resta saber o que o Sudão ganha com isso.

Vivian Peres disse...

É o que eu também me pergunto. E outra: até que ponto as nações tem o direito de interferir na soberania das outras?
Bjksss