Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

terça-feira, 3 de março de 2009

Bife de chorizo: reflexo da Argentina

Visitar outro país obrigatoriamente deve incluir fortes experiências gastronômicas, que podem variar entre extremamente agradáveis e bastante complicadas, seja para o paladar, para o corpo ou para o bolso. De uma maneira ou de outra, entrar em contato com um sabor inusitado é sempre inesquecível, para o bem ou para o mal. Na Argentina, a gastronomia de um modo geral revela muitos prazeres. Em Buenos Aires, a expressão máxima é realmente o famoso bife de chorizo, uma especialidade local que assume múltiplos sabores dependendo do estabelecimento que a prepara.

Dizem que, para o padrão brasileiro, o bife de chorizo seria equivalente a uma parte mais selecionada do contrafilé. O fato é que o corte argentino transforma o pedaço de carne tradicional em um bife tenro com sabor inigualável. E o segredo da preparação é simples: não deixar passar do ponto. O tempero? Sal grosso.

O prato é a prova de que os sabores portenhos continuam os mesmos, deliciosos e inigualáveis, mas uma coisa mudou radicalmente nos últimos anos: os preços. Desde que os brasileiros começaram a descobrir Buenos Aires, há aproximadamente dez anos quando a moeda argentina se desvalorizou após a catástrofe econômica do governo Menem, visitar a cidade significava obter vantagens ilimitadas o tempo todo. Tudo era uma pechincha!

Há poucos anos (quatro ou cinco) – segundo contaram pessoas consultadas que visitaram o país neste período – era possível gastar 15 pesos para comprar uma refeição completa, que incluía, sim, o bife de chorizo e até uma deliciosa taça de vinho da casa. Hoje, a iguaria não sai por menos de 40 pesos, operando com uma média de 60. Detalhe que o cafezinho pode chegar a 10 pesos, custando, em média 5, nas principais casas da cidade.

Pode-se pensar em uma junção de valores para um crescimento tão exacerbado dos preços dos alimentos na capital argentina. Em 2008, por exemplo, o índice de inflação oficial do país vizinho, divulgado pelo Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC), foi de 7,2% - e 8,6% em 2007 -, mas calcula-se que a inflação real chegue a mais que o triplo (24%). Se pensarmos que esses aumentos nos preços são influenciados primordialmente pela alta das commodities, é possível perceber claramente por que um bife de chorizo praticamente triplicou de valor.

Para o turista, os reflexos são mínimos. Afinal, os gastos extras de uma viagem internacional devem estar previstos no orçamento. Porém, o problema maior é para os próprios portenhos, que vêem, a cada dia, o seu poder de consumo encolher, incluindo a famosa iguaria local. A atual crise só tende a piorar esse quadro.

Nenhum comentário: