Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

quarta-feira, 11 de março de 2009

Oligarcas maranhenses

As comidas típicas do Maranhão refletem as raízes de um dos estados brasileiros que mais se assemelha ainda a uma capitania hereditária. Misturando influências dos sertanejos, índios, portugueses e africanos, a gastronomia é muito rica. Entre os pratos procedentes da primeira origem, estão: carne-de-sol com aipim, galinha caipira, peixada e pato guisado.

Mas realmente são os escravos africanos que mais colaboraram para a formação de receitas criativas e saborosas, que agregam misturas até então inusitadas. O principal expoente é arroz-de-cuxá (foto), uma mistura de camarão fresco, camarão seco, vinagreira (verdura típica da região), arroz e temperos. As raízes que ajudaram a criar essas iguarias gastronômicas são as mesmas que até hoje mantém o estado maranhense impregnado por escravidão e sofrimento. Compõe-se assim uma população alijada, com baixa escolaridade, que acaba mantendo os mesmos comandantes oligárquicos no poder.

Em outras palavras: é um dos maiores grotões brasileiros. A família Sarney manda e desmanda como se fosse dona do estado. E de fato é. Os Sarneys possuem quatro emissoras de TV, o maior jornal impresso, 14 emissoras de rádio, uma ilha e diversas propriedades, além de governar o Maranhão há 42 anos, com políticos da família ou títeres comandados por ela.

A influência dos oligarcas no estado tem origens históricas: começaram como intermediários das aplicações de verbas da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e, posteriormente, da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia). O mais irônico é que essas entidades, que foram criadas para diminuir a disparidade entre os estados do Norte e Nordeste e as demais regiões do País, tornaram-se as maiores fontes de desigualdade, alimentando as elites locais com altíssimas quantias.

Depois de muitos anos de supremacia maranhense, Roseana Sarney (PMDB) perdeu a última eleição ao governo para Jackson Lago (PDT). Porém, como a família sempre dá um “jeitinho brasileiro”, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato do político eleito democraticamente pelo povo e, segundo a lei, deve nomear o segundo colocado para o cargo, ou seja, exatamente a Roseana. Os motivos da cassação são abuso do poder econômico e político, incluindo diversas denúncias que, pelo menos por enquanto, parecem um pouco vagas. É o caso, por exemplo, dos eleitores que denunciaram compras de votos espontaneamente - depois, inclusive, um deles voltou atrás e disse que tinha recebido dinheiro para testemunhar.

As consequências recaem exatamente sobre a massa afrodescendente do estado, os inventores do arroz-de-cuxá e verdadeiros chefs de cozinha para ninguém botar defeito. Enquanto as oligarquias não saírem do poder, o quadro futuro continua bem sombrio.

Nenhum comentário: