Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Muro de Berlim de sorvetes

Final de tarde quente de Havana. Faz 32 graus. Acredite, a sensação térmica é de muito mais. Em uma caminhada rápida pelo bairro de Plaza de La Revolucion, é possível observar uma movimentação estranha de cubanos. Em grupos, grandes ou pequenos, todos caminham para o mesmo lugar: a praça central.

Nela, está localizada a sorveteria Coppelia, inaugurada no dia 4 de junho de 1966. Após os primeiros anos da revolução, as três principais marcas de sorvete – Guarina, Hatuey eSan Bernardo –haviam desaparecido. A inauguração da Coppelia foi motivo de festa. 43 anos depois, os cubanos ainda se deslocam de todos os lugares de Havana, ou até mesmo de outras províncias, para se refrescar com um sorvete. Em plena segunda-feira, as filas são longas e é preciso resistir à espera.

Aos finais de semana, o local recebe mais visitantes do que o permitido pelo espaço físico. E olha que a sorveteria ocupa grande parte do o centro da praça, além de ter quatro salas com mesas no andar de cima. Há militares por toda a parte. Também há correntes cercando as filas e o entorno da praça. O acesso ao local onde os sorvetes são vendidos é restrito.

O mais curioso é que, enquanto os moradores da ilha se aglomeram nas filas, os turistas podem comprar o mesmo sorvete em uma barraquinha ao lado. O que separa os dois produtos? A resposta é simples: os vendidos aos turistas custam 70 vezes mais.
Não, você não leu errado. O mesmo sorvete que custa 1,10 peso cubano para eles, sai por 2,80 CUC para nós. Como cada CUC vale 25 pesos cubanos, é só fazer as contas. Um turista paga 6,2 reais por um sorvete de massa de uma bola e pode escolher entre três maravilhosos sabores: morango, amêndoas e laranja.

Lembrando que esse não é o único sorvete de Cuba. Existem diversas marcas conhecidas nossas no país, como a Nestle. Mas acho que ficou bem claro por que todos os locais preferem a Coppelia, não é mesmo? E não tem nada a ver com variedade de produtos, ambiente, propaganda, estratégia de marketing, qualidade...

2 comentários:

Ronaldo Faria Lima disse...

Infelizmente as botas da ditadura já ficaram tempo demais em cima dos nossos irmãos cubanos. Trata-se de um país pobre, atrasado economica e tecnologicamente, e que tenta sobreviver como pode. Avançaram em demasia na medicina, mas mesmo assim por que era interesse do Estado.

As intenções de Fidel, quando tomou o poder deviam ser as mais nobres possíveis. Porém, hoje ele jaz corrompido pelo poder, cego pela ganância e agarrado em um trono que em breve a morte retirará de suas mãos.

Rezo à Deus para que Cuba consiga, um dia, livrar-se da ditadura.

Vivian Peres disse...

Mesmo com relação à medicina, tenho as minhas dúvidas. Hoje, a formação médica é intimamente ligada à tecnologia. Como eles podem formar bons médicos que nunca viram um moderno aparelho de ultrasom?