
A resposta é: tudo. Eu mudei, a sociedade mudou, a universidade idem, o País mudou e, acima de tudo, o MST mudou. E muito! Em finais da década de 1990, a sigla significava esperança para a população de um modo geral. Exemplo de que era possível se organizar em busca de um objetivo comum e combater as grandes injustiças que assolam o País, como a concentração fundiária.
Visitar o acampamento do MST na saída de Bauru era quase lição de casa para quem fizesse um curso de humanas no campus da Unesp na cidade. Lembro-me de olhar o chão de barro batido, as tendas de lona preta e as crianças brincando felizes com pés cobertos da fina terra vermelha. Mas, acima de tudo, recordo-me do cheiro da comida, requentada em marmitas de alumínio em pequenos fogões de camping. O menu incluía arroz com feijão ralo, macarrão e ovo frito. Tudo junto e misturado.
Acreditem: tinha gente da minha sala, pessoas com teto, universitários, que moravam lá com eles, no acampamento, tamanho o fascínio que causavam.
Hoje, como mostra a matéria da Carta Capital, o MST vive de tentar fazer a vida do gerente-geral da Vale, José Rogério de Paula e Silva, um inferno. O líder do movimento, João Pedro Stedile, responde a diversos inquéritos criminais na justiça e tem, por trás dele, uma ampla gama de advogados gabaritados, que, certamente, almoçam em bons restaurantes. Nada semelhante à legitimidade das bases do movimento no final do século passado.
Só me pergunto o que estão fazendo aquelas crianças, hoje adultos, que corriam pela terra batida no calor de Bauru. Desertaram do movimento? Conseguiram seu pedaço de terra? Tentaram a vida marginal em uma grande cidade? Questionamentos que dificilmente serão respondidos.
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