Pólítica com tempero: o blog de curiosidades gastronômicas sobre acontecimentos sociais, políticos e culturais

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Zac Efron ou João Pedro Stedile

Quando entrei na faculdade, há exatos dez anos, o MST (Movimento Sem Terra) era a High School Musical do corpo discente - e do docente em grande parte – da universidade pública, ganhando status de celebridade. Hoje, vindo ao trabalho, li a reportagem “Frente a frente”, de Phydia de Athayde, na Carta Capital, sobre as atuações mais recentes do movimento, e me perguntei: o que mudou tanto de lá para cá?

A resposta é: tudo. Eu mudei, a sociedade mudou, a universidade idem, o País mudou e, acima de tudo, o MST mudou. E muito! Em finais da década de 1990, a sigla significava esperança para a população de um modo geral. Exemplo de que era possível se organizar em busca de um objetivo comum e combater as grandes injustiças que assolam o País, como a concentração fundiária.

Visitar o acampamento do MST na saída de Bauru era quase lição de casa para quem fizesse um curso de humanas no campus da Unesp na cidade. Lembro-me de olhar o chão de barro batido, as tendas de lona preta e as crianças brincando felizes com pés cobertos da fina terra vermelha. Mas, acima de tudo, recordo-me do cheiro da comida, requentada em marmitas de alumínio em pequenos fogões de camping. O menu incluía arroz com feijão ralo, macarrão e ovo frito. Tudo junto e misturado.

Acreditem: tinha gente da minha sala, pessoas com teto, universitários, que moravam lá com eles, no acampamento, tamanho o fascínio que causavam.

Hoje, como mostra a matéria da Carta Capital, o MST vive de tentar fazer a vida do gerente-geral da Vale, José Rogério de Paula e Silva, um inferno. O líder do movimento, João Pedro Stedile, responde a diversos inquéritos criminais na justiça e tem, por trás dele, uma ampla gama de advogados gabaritados, que, certamente, almoçam em bons restaurantes. Nada semelhante à legitimidade das bases do movimento no final do século passado.

Só me pergunto o que estão fazendo aquelas crianças, hoje adultos, que corriam pela terra batida no calor de Bauru. Desertaram do movimento? Conseguiram seu pedaço de terra? Tentaram a vida marginal em uma grande cidade? Questionamentos que dificilmente serão respondidos.

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